Flor do lixão, vídeo 10'03'', projeção tamanho variável, 2020

Vídeo com duração de 10'02" feito coletivamente pela equipe que integra o Projeto Vocacional 2020 Norte 2 da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo. O trabalho foi desenvolvido em cima do texto “Uma flor que nasce no lixão resiste até ao fim do mundo” de autoria de Igor Chico. A edição geral e o som-música são de Loop B e as fotos de Beth Barone. Nas vozes temos Laís Marques, Jhow Carvalho, Luciana Hoppe, Afonso Alves Costa, Maíra Alves, Claudia Polastre e Filipe dos Santos Barrocas.

“Uma flor que nasce no lixão resiste até ao fim do mundo” de Igor Chico
É que esse tronco foi moldado pra aguentar a dor e a pressão que nenhum deles aguentaria. E seguir firme.
Já me orgulhei disso. Hoje não me orgulho mais.
O mundo nas costas pesa, mas pesa menos do que suportar as dores de uma casa inteira e não saber onde guardar as próprias. Virar homem mais cedo, aprender a dormir no frio, engolir os medos e a brigar em corredor de hospital.
Esse corpo é mais do que olheira, pela seca, rinite e dor nas costas. É sede. E não dá pra matar a sede com a água salgada que cai do olho.
Quem não entende o meu silêncio não é digno da minha lágrima. A lágrima só vem quando não tem ninguém olhando.
Juram que é sobre brutalidade mas é sobre se manter de pé. Sou dessa gente que quando chora desaba e aprendi a não desabar em público. E eu é que não vou ostentar por aí as minhas lágrimas como se elas fossem troféu, a medalha, o certificado de que me tornei homem melhor porque já sei que me torno um homem melhor toda vez que morro e renasço sozinho; toda vez que eu mesmo me rego no verão; toda vez que no inverno eu desenho um sol numa folha de papel e invento que ele também tem luz e calor que é só pra eu não morrer que é só pra não morrer nenhum de nós.
É no extremo da vida – só no extremo da vida – que uma flor produz o seu melhor perfume.
Mas quem olha pra uma flor linda em terra seca sempre jura que ela não precisa de sol e água. Não sabe que arde fazer perfume, não sabe que dói criar cor, não sabe que custa caro aprender a viver sem água.
Quem vê uma flor bonita brotar no lixão só vê, não enxerga.
Quem vê uma flor sendo pisada, cuspida, cagada e continuar viva e colorida e cheirosa jura que pode pisar, cuspir e cagar numa flor e depois exigir que ela continue perfumando porque sabe que mesmo pisados cuspidos e cagados existe algo por dentro da gente que ainda faz com que a gente continue perfumando.
Aprendi a florescer em terra seca e isso ninguém tira de mim.
Se me dão uma só gota d’água sou capaz de fazer brotar uma floresta inteira. Desses que do nada tira força pra matar a sede e a fome de uma aldeia inteira.
Uma flor que nasce no lixão resiste até ao fim do mundo. E mesmo exausta aprende a fazer o mundo renascer.

Publicações
2020 – Ação 14: Poemúsica FLOR DO LIXÃO, de Igor Chico e Loop B / Canal Vocacional 2020 / Norte 2 / Youtube / Brasil / https://youtu.be/5H4cu7bBbzM
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